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Mais de 190 mil pessoas nascidas em outros estados, residem em Goiás.  É o que diz o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estima-se que esse número tenha triplicado, podendo chegar a mais de 307 mil pessoas, desde o último censo. A bacharel em direito Eliene Bezerra é um exemplo disso. Há cerca de seis meses, ela e o marido, o vendedor Reurison Gomes saíram de Porto Velho, em Rondônia e se mudaram para Goiânia.

Uma das dificuldades encontradas pelo casal foi entender o jeito que os goianos falam. Quem não é daqui logo percebe que por essas bandas, coloca-se tudo no diminutivo, mistura-se o plural com o singular e exagera-se no puxar do R, além de se cortar o final das palavras. Para Reurison, o primeiro contato com o “goiânes” foi impactante, já que imaginou se tratar de um erro grosseiro da língua portuguesa. “Não quero tratar aqui de preconceito linguístico, por que eu entendi que é literalmente cultural eles falarem dessa forma”, afirmou o vendedor.

De acordo com a professora de português Elizete Albina, não existe nenhum problema em aspecto gramatical no “goianês”. Tudo se trata de uma “variante linguística”, que é a maneira como cada pessoa utiliza a linguagem. Ela afirma que o problema é em relação a inadequação e isso vale para a fala e escrita. “Você precisa ter uma adequação ao contexto da situação e fazer o uso da norma padrão, formal ou informal, ou da forma coloquial. É também uma condição regional”, explica Elizete.

Eliene relata que teve dificuldades em associar e interpretar às gírias. “Para mim uma pessoa custosa, é uma pessoa que gasta muito, aqui em Goiânia não, custoso é associado a rebeldia e ponto final”, ela afirma também que os goianos puxam tanto o R, que dá a impressão que eles vão engolir a língua deles. “Porrrrta, porrrr que, pastorrr, às vezes não consigo entender quando as pessoas falam em sequência de R". Eliene encerra dizendo que demorou para entender o que era “aneim” e que acha interessante o jeito que os goianos escrevem o que falam. 

Quanto a isso, a professora explica que o falante precisa ter cuidado para o modo de falar não interferir na parte escrita. “Quando se escreve, é necessário um cuidado maior, por conta do que vai ficar registrado. É a questão da adequação”, afirma Elizete.

Dicionário Goianês,

O “Goianês” é tão especial, que já ganhou até mesmo um dicionário, que reúne mais de 4 mil palavras e expressões da cultura regional. O livro, cujo título é bem cumprido (Termos e expressões do coloquial do cotidiano da zona rural no Brasil Central do século XX), foi escrito pelos servidores aposentados da Universidade Federal de Goiás (UFG), Armando Honório da Silva e Ismael David Nogueira.

Para conhecer a história do dicionário, o TudoUnialfa foi até a UFG, ter uma “prosa” com Armando Honório. A entrevista rendeu tanto que virou até o tema do podcast #UNIALFA dessa semana. Confira:

O dicionário está disponível apenas na versão digital. Para ter acesso ao livro, clique aqui.

“GOIANÊS NA REDE”.

Além de dicionário, o “Goianês” têm feito bastante sucesso na internet. Tudo isso, graças a alguns goianos que encontraram no humor, a chance de levar a cultura do estado para todo o país e até mesmo para o exterior.

Um deles é o engenheiro civil, Jacques Vanier, que começou a fazer vídeos brincando com o “goianês” para matar a saudade de casa. Morando na Califórnia, nos Estados Unidos, Jacques tem chamado a atenção ao misturar palavras em inglês com expressões goianas.

Outro goiano que tem brilhado nas redes sociais, é o cantor sertanejo Waldemar Melo. Os vídeos e paródias produzidos pelo humorista, tem feito tanto sucesso, que renderam ao cantor, um programa na TV Anhanguera, emissora afiliada a TV Globo.