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03/11/2016

O que não vale é desistir

Perfil jornalístico

 

Rose está em horário de trabalho, então precisa passar as roupas de sua patroa enquanto conversa comigo. Passar, dobrar e guardar. São umas das coisas que ela tem que fazer. Ser secretária do lar nunca foi sua escolha, mas foi o que a vida proporcionou.

Rosineide Peixoto dos Santos, conhecida apenas como Rose. Filha de uma faxineira e de um pedreiro. Tem sete irmãos. Nasceu em 28 de julho de 1981 na cidade de Mirangaba, Bahia. Cresceu em uma família humilde e passou por muitas dificuldades na vida. Porém, nem isso a impediu de ir atrás de seus sonhos.

Durante nossa conversa a televisão continua ligada como de costume. Afinal, ela ama as novelas mexicanas que passam no SBT. Assim como também ama ligar o som no volume máximo para ouvir forró, enquanto limpa a casa de seus patrões. Claro, quando eles não estão presentes.

Uma morena sorridente e batalhadora de apenas 35 anos. Seu corpo mostra as marcas de uma mulher que já foi mãe, mas que ainda possui uma disposição física como de uma criança. Gosta de jogar futebol aos finais de semana e de fazer ligações para suas “comadres” para manter os papos em dia.

Rosineide, uma baiana nata, contou que se mudou aos sete anos para Angical – ainda na Bahia- com a família. Eles acreditavam que se mudar para essa cidade do interior as condições financeiras poderiam melhorar para eles. Quando ela estava com dez anos, seus pais se separaram. Seu pai se mudou para uma fazenda e a deixou morando com sua mãe. Felizmente, um tempo depois sua mãe se começou a se relacionar com um novo homem que pôde ajudá-las.

Ela aprendeu desde cedo o valor do trabalho. Como seu padrasto tinha uma marcenaria, ela sempre o ajudava. Quando não o fazia, Rose vendia frutas colhidas da roça dele e até mesmo peixes. Tudo era bem vindo para que pudesse ajudar sua família. “Houve uma vez que eu vendi um peixe para uma senhora e ela não queria me pagar. Estava se aproveitando que eu era uma criança”. A baiana conta detalhes de sua infância.

Passava suas férias na fazenda de seu pai. Mas não para se divertir e curtir os dias de “folga”. Muito pelo contrário, ela ajudava seu pai trabalhando em uma padaria, pois as coisas eram muito difíceis na fazenda. “Tudo que nós precisávamos, nós tínhamos que sofrer mesmo. Se quisesse comer um arroz ou um cuscuz era preciso trabalhar para valer”.

Aos 18 anos, após finalizar seus estudos, ela se mudou com sua mãe e alguns de seus irmãos para Goiânia, na procura mais uma vez de melhorar de vida e realizar seu sonho de poder cursar uma faculdade. Mas ao chegar à cidade as coisas não aconteceram como o planejado.  Ao invés de ir à uma faculdade, Rose precisou ir para a casa de outras pessoas em busca de um emprego. E foi então que começou a trabalhar de doméstica, diarista e atualmente, secretária do lar. Limpar a residência dos outros, lavar e passar roupas, cozinhar e cuidar dos filhos de seus patrões era a sua única opção.

Por ter um bom coração, conseguiu que alguém a visse em meio a tantas pessoas. Depois de ficar muito tempo sem se relacionar com ninguém, devido seu grande empenho em apenas trabalhar, Rose finalmente se casou. O sobrenome “Santos” foi acrescentado em seu nome. Assim, formou uma nova família. E com três anos de casamento uma novidade maravilhosa surgiu: uma gravidez!

Atualmente Rose continua trabalhando. Construiu sua família e depois de mais de dez anos conseguiu realizar seu maior sonho: está cursando pedagogia. Ela consegue conciliar marido, filho, emprego e estudos facilmente. Tem sua casa própria e continua com o mesmo sorriso no rosto. Porque para ela, desistir jamais!