Caderno 3 / Edições

07/05/2017

Homossexualidade divide opiniões na sociedade

Na puberdade, que segundo a Organização Mundial da Saúde, se inicia por volta dos 10 anos e se encerra aos 19, muitos jovens começam a conhecer o seu corpo e a sentir as transformações físicas, psicológicas e comportamentais. Um assunto que sempre está ligado a esse tema é a descoberta da homossexualidade na adolescência, que divide opiniões na sociedade e nas famílias.

O estudante Lucas Silva, 19 anos, nome fictício, afirma que desde sua adolescência sofre por ser homossexual, pois lida com problemas que somente seus amigos mais próximos conseguem entender. “Posso dizer que hoje em dia vivo uma vida de aparências. Simplesmente convivo com um problema comigo mesmo. Sequer tenho a liberdade de chegar aos meus pais e expor o que realmente sou e o que sinto. Tenho mais confiança em contar aos meus amigos do que contar à minha própria família”, afirma.

Lucas relata que por ser extrovertido nunca foi reprimido por seus amigos, mas sempre que pensa em contar aos seus pais, fica com medo de ter problemas futuros. " Consigo enxergar em meus pais a felicidade ao encherem a boca para falar sobre mim. Pois para eles sou o único homem da família que tem juízo, que anda na linha e ainda falam que sou a referência de jovem hétero”.

No caso do professor de matemática Santyago Saymon, 22 anos, desde seus 15 anos sua família já suspeitava de sua homossexualidade. “Naquela época eu já beijava bocas de meninos da mesma idade, e também mais velhos, claro. Quando decidi assumir minha homossexualidade, fui muito bem recebido pelos meus pais, eles entenderam perfeitamente que o que era mais importante, era a minha felicidade”, afirma Santyago.

Para a funcionária pública Juliana Rocha, 33 anos, se algum de seus filhos chegarem até ela e revelarem que é homossexual, ela entenderia e o aceitaria da melhor forma possível. “Primeiramente iremos conversar. No meu caso, eu aceitaria normalmente. Porque eles não vão deixar de ser meus filhos. Nós temos que respeitar o próximo como ser humano. Iremos sempre buscar orientações para poder acompanhá-lo, porque sabemos que na sociedade em que vivemos as pessoas são julgadas por tudo e por todos”.

Para o casal Marcos Antônio, 42 anos, e Helena Maria, 43, se algum dia o filho chegar a revelar ser homossexual, inicialmente eles ficariam em estado de choque. “Sempre demos boas instruções ao nosso filho. Ensinamos que o caminho certo a se seguir é o caminho proposto por Deus, pois está na Bíblia que o homem deve se relacionar com a mulher para constituírem uma família. Procuraríamos médicos, especialistas, psicólogos, pois achamos que se ele tomar essa atitude e persistir em querer seguir este caminho, dentro da nossa casa ele não entra mais”.

Já para a biomédica Janayna Wanessa, 29 anos, se descobrisse algo do tipo em sua família, o entendimento não seria o mesmo. “Se uma simples tatuagem e um piercing já causam todo um reboliço na família, imagina se meu irmão chega e fala que é gay. Ele é deserdado e expulso de casa”, afirma entre risos.

De acordo com o psicólogo Alexandre Herênio, não revelar a orientação sexual à família é uma escolha a qual os jovens têm direito. “É importante que se revele aos pais, mas também pode ser uma opção do jovem não revelar. Se ele acha que é melhor não revelar e se ele lida bem compartilhando essa informação, revelando apenas a pessoas mais próximas que não sejam da família, não tem nenhum problema. Se estiver tudo bem para ele e se isso não gerar transtornos dentro de casa e não comprometer a relação com seus pais, não há motivos para se preocupar”, afirma.

Herênio afirma que nesses casos, quando desde a adolescência a família já consegue perceber essa mudança em relação ao comportamento do filho, o relacionamento entre as partes são de afeto. “Na maior parte dos casos, quando o adolescente revela a sua opção sexual, isso não costuma ser uma surpresa para os seus pais, a menos que sejam pais muito distantes. Essas questões são percebidas desde pequeno, pois os pais têm uma noção do que acontece com seu filho. O importante é que o jovem fale da maneira que ele consiga, pois não é recomendado que nós fiquemos instruindo sobre a forma de falar para a família. São coisas naturais”.

Para Herênio, a instrução sobre qualquer assunto é a chave para qualquer diálogo. “O recomendado é que essas pessoas procurem a ajuda de um especialista, porque provavelmente quem reprime e julga os outros não tem conhecimento a respeito do tema. A recomendação é que se esclareça essas questões que são obscuras para eles e que acabam sustentando a existência desse preconceito e dessa aversão com relação à homossexualidade”.