Caderno 3 / Edições

12/04/2017

56% dos brasileiros estão lendo mais

De acordo com a 4ª Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o número de leitores no Brasil aumentou nos últimos anos. Em 2011, os leitores representavam 50% da população brasileira e em 2015 esse índice aumento para 56%. Apesar deste crecimento, a leitura tem perdido espaço para outras atividades como ouvir músicas ou usar a internet.

A estudante Fernanda Mayara Silva, de 16 anos, confessa que os sites de relacionamento fizeram seu tempo de leitura diminuir. “As redes sociais ocupam mais o meu tempo que a leitura, porque tinha uma época que eu lia muito mais do que eu leio agora”. A pesquisa aponta que dentre as atividades que as pessoas mais gostam de fazer nas horas livres, a leitura fica em 10ª posição, com apenas 24% perdendo para o uso da internet, com 47%, ouvir música, com 60%, e usar o whatsapp, com 43%.

No entanto, a professora de redação Carla Barbosa mostra que, ao contrário do que muitos acreditam, existe leitura nas redes sociais. “Quem nunca viu um link para uma reportagem ou artigo de opinião e vai lá e lê? Claro que é uma leitura fragmentada, mas se você for pensar nesse aspecto as pessoas leem mais muito mais que antes”, afirma. Segundo a pesquisa, um dos motivos para as pessoas não lerem frequentemente seria a falta de tempo. A estudante Ana Clara, de 16 anos, gosta de ler, mas os estudos acabam tirando seu tempo para leitura. “Minha leitura é mais intensa no conteúdo escolar, com a rotina que a gente tem, não temos tempo de colocar a leitura em dia”, afirma.

O número de leitores entre 18 e 24, anos de acordo com a pesquisa, cresceu de 53% em 2011 para 67% em 2015. A estudante Fernanda Mayara tenta manter a média de livros mesmo com a vida escolar ativa. “Leio em média de oito a nove livros por ano. Sempre que posso eu leio, mesmo que seja em versão digital ou um livro que eu já li, acho muito importante para a gente que está sempre em pressão com Enem”, afirma.

Um dos meios dos jovens estarem sempre em contato com a leitura é por meio dos livros em formato digital, porém esse tipo de leitura pode acabar distraindo a pessoa. Fernanda Mayara relata que não gosta da leitura no formato digital por causa da distração. “Eu não gosto muito da leitura em pdf [Formato Portátil de Documento], porque às vezes aparece ali a notificação então você acaba indo ver e acaba perdendo o rumo da história que está lendo”, afirma a estudante. No entanto, para a professora Carla, se a pessoa distrai com a leitura em versão digital ela pode se distrair em qualquer outra situação.” Para mim, leitura exige concentração, então não é só porque ele está em um smartphone ou notebook que vai se distrair, ele pode se distrair com um barulho, mosquito, qualquer coisa”, afirma.

A leitura em muitas escolas tem é obrigatória e a pesquisa apresentou esse caráter como um dos motivos para a leitura, com apenas 7%. “Teoricamente a ideia da leitura na escola é muito boa, ela tem que ser colocada em prática, o que a gente tem que fazer com o aluno é que dentro desse cotidiano de rede social ele direcione a leitura dele, porque os textos da escola fogem do cotidiano do aluno, esse é o grande problema”, relata a professora Carla.

A estudante Ana Clara destaca que os livros adotados na escola são bons, mas como existe uma obrigação e tempo para a leitura, o que se aproveita é apenas o contéudo bruto, a essência do livro acaba não sendo extraída pelos alunos. A estudante Fernanda Mayara concorda com Ana Clara. “Eu acho que esse tipo de leitura traz prejuízo, porque quando passa a ser obrigatório e tem um tempo, a gente acaba criando certo receio de ler. Eu sinto meio que um bloqueio, porque quando você é obrigado a fazer alguma coisa que você não quer você acaba tomando ódio pela coisa”, declara.

A leitura estimula o pensamento sobre vários assuntos do cotidiano, pois segundo a professora Carla é durante a leitura que o aluno entra em contato com a reflexão que ele mesmo faz do que está lendo e a reflexão feita pelo autor. “Por mais que a gente ache que tenha uma ideia muito fixa, a partir do momento que a gente entra em contato com a ideia do outro através da leitura a gente faz uma mediação, por mais que você não queira. Então, a leitura cria um aluno mais crítico, porque ele vai refletir em cima da reflexão do outro”.

De acordo com a pesquisa, um dos fatores que influencia na escolha de um tema para leitura é a indicação dos professores, com 7%, perdendo apenas para indicação de outra pessoa, com 12% e autor, com 30%. A professora de redação considera que o incentivo à leitura não parte só dos professores de língua portuguesa e literatura. “A comunidade escolar como um todo deve incentivar a leitura entre os jovens, porque tem livros que são completamente interdisciplinares”.