Caderno 3 / Edições

07/05/2017

"É uma loucura sem cura e só quem ama entende", afirma torcedora

Alguns torcedores são tão fanáticos por seus times do coração que não medem esforços para acompanhá-los; fazem promessas extraordinárias, choram desenfreadamente nas derrotas e enchem o peito de orgulho com as vitórias e os títulos.

 

O ambiente de um estádio de futebol é marcado por sentimentos extremos. As arquibancadas ficam alegres e eufóricas no momento em que o time faz gol, pessoas desconhecidas se abraçam, cantam o hino do clube em coro e gritam copiosamente o nome de seus ídolos. Por outro lado, a torcida adversária fica aflita ao ver a desvantagem no placar. As vaias e as provocações ecoam pela arena. O contraste entre as expressões de tristeza e de felicidade tomam conta do rosto dos torcedores. Dentro de campo, jogadores vão ao limite do esforço físico atrás de uma vitória.

Em uma nação conhecida como ‘o país do futebol’, o convívio com essa atmosfera pode começar bem cedo e o amor por um time aparecer logo na infância. Crianças vão aos primeiros jogos acompanhados dos pais e transformam-se em torcedores fiéis, como é o caso da estudante de Comércio Exterior Sara Silva, 20 anos, fanática pelo Goiás Esporte Clube. “Meu pai me leva ao estádio desde os três anos. Eu o presenciei sendo movido por essa paixão e tomei isso para mim. Ele é o grande responsável por eu amar futebol”, conta.

Além do incentivo familiar, algumas equipes despertam o amor dos torcedores por seu processo histórico de construção. Hellen Rocha, 19 anos, estudante de Jornalismo, relata que se apaixonou pelo Clube de Regatas Vasco da Gama por conta da luta do time contra o racismo, sendo o pioneiro em aceitar jogadores negros no elenco, e pela força dos torcedores vascaínos, que inclusive atuaram na construção do Estádio Vasco da Gama, mais conhecido como Estádio São Januário, em alusão a uma das principais ruas que dão acesso à arena.

Mas o fanatismo pode levar a atitudes extremas e causar situações inusitadas. A esmeraldina Sara narra como a maior loucura da sua vida o episódio em que o Goiás jogaria a última partida antes da paralisação para a Copa do Mundo de Futebol, contra o Coritiba, em Curitiba (PR), pelo Campeonato Brasileiro de 2014. “Uns amigos animaram de descer para Curitiba para ver o jogo, só que eu sabia que meu pai não iria deixar. Daí eu nem pedi. Falei para ele que ficaria na casa de uma amiga e fui assistir ao jogo. Mas só tinham quatro torcedores do Goiás no estádio e meu pai me viu pela TV”, revela. Sara declara que foi difícil se explicar para ele, que chegou a ficar um tempo falar com ela.

Outra forma de demonstrar a idolatria pelo time de futebol são as tatuagens. “Eu sentia a necessidade de carregar a Cruz de Malta comigo, mesmo que não fosse em uma camisa”, confessa a torcedora vascaína. Hellen ainda diz que o futebol significa um mix de emoções e que é incrível ver milhares de pessoas reunidas em prol de uma só coisa, de uma só equipe. Sara também não hesitou em homenagear o Goiás em sua pele e fez duas tattoos relacionadas ao clube. “Elas significam uma grande paixão. As pessoas me perguntam se eu não tenho medo de me arrepender aos 30, 40 anos e eu digo que tenho certeza que não vou me arrepender”, descreve.

Para se dedicarem tanto aos seus times, torcedores fanáticos acabam abrindo mão de outras coisas, como viagens e encontros familiares, para acompanharem os jogos. “Até ano passado, toda vez que eu perdia um jogo do Goiás, eu ficava muito triste, sentia que estava traindo meu clube. Era deplorável, eu ficava realmente muito mal”, reconhece a torcedora alviverde. Sara admite ainda deixar de fazer algumas coisas por conta do time, mas agora não prejudica sua vida acadêmica e profissional como antes.

Toda essa dedicação também atrai críticas de pessoas que não conseguem entender como alguém demonstra tanto sentimento por um time. “As pessoas falam que é um exagero e que não vou ganhar nada com isso, mas eu apenas ignoro porque não vai mudar minha opinião”, completa Hellen. A estudante Sara diz que recebe críticas diariamente por parte de professores, amigos e alguns familiares. “Eu costumo dizer que é uma loucura sem cura e só quem ama entende. Você não pode querer explicar para alguém que não sente isso, as pessoas não entendem esse amor por futebol porque elas não vivem o futebol”, encerra a torcedora do Goiás.