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Setembro amarelo e o cuidar de si

Publicado em 10/09/2020

*Guilherme Nogueira

O setembro amarelo é um mês dedicado à vida em suas várias nuances. É muito importante olhar os casos de pessoas que retiram suas próprias vidas, pois esse vem sendo um caso grave da saúde pública. Contudo, também vale a pena refletir sobre como temos vivido e como podemos melhorar nossa qualidade de vida.

Vivemos cercados por informações que tentam nortear a nossa visão sobre nós mesmos e o mundo. O homem não vive isolado, ele tem a necessidade de se relacionar com os outros, de ter seus grupos. Essa é uma necessidade própria da existência humana, pois o homem é o único ser capaz de escolher e, geralmente, escolhe cuidar de si e do outro. Isso ocorre porque temos consciência, diferente dos outros animais, podendo então ter engajamento, familiaridade e compreensão dos outros.

Quando falo sobre tal tema, não me refiro apenas ao sentido de ter atenção, zelo, responsabilidade, quero ir além. O cuidado do qual me refiro é próprio da atitude de se relacionar verdadeiramente com o outro, e só posso alcançar tal mérito quando me relaciono verdadeiramente comigo mesmo. Cuidar, dessa forma, é me envolver plenamente com minha singularidade, meus anseios, minhas capacidades e minhas limitações, para poder me abrir à complexidade de outra existência humana.

Atualmente, há uma tendência de criação de parâmetros que dificultam muito o processo de estar bem. Isso porque a pessoa tem deixado de se usar como seu próprio ponto de medida, para se medir com base no externo a ela. Então ela tem que ser mais feliz, mais inteligente ou mais bem-sucedida do que o outro. Desse modo, vive-se um distanciamento de si e o tratamento do outro como um objeto, o que é incompatível com a visão de uma sociedade harmônica.

Quando estou bem comigo mesmo apesar das minhas limitações, tenho muito mais a oferecer concretamente, porque trabalharei com dados mais verdadeiros. Posso ser autêntico no modo de lidar com as demandas diárias, e até reconhecer minha incapacidade diante de algumas delas. E tudo bem!

Para me realizar comigo mesmo não preciso, necessariamente, dar conta de tudo. Preciso me reconhecer como ser em processo de amadurecimento e desenvolvimento constante. Essa não pode ser uma desculpa nem uma cobrança mediante meus erros, mas um incentivo para continuar nesse processo.

Nesse setembro amarelo, olhe para sua vida. Se ajude! Se precisar, busque ajuda nas pessoas próximas ou em algum especialista. Mas creia que nenhuma situação é tão catastrófica que não possa ser cuidada de alguma forma. As vezes não será possível o cuidado da forma como queremos, mas da forma como for possível... Se a vida já está boa, acredite que ela pode ser sempre melhor ainda conforme a sua própria medida, então continue trabalhando. Cada um cuidando de si, e o resultado será uma sociedade cuidando dela mesma!

 

Guilherme Nogueira - É psicoterapeuta com especialização em "Psicologia Clínica: Gestalt-terapia", pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT). Atua ainda como professor do curso de Psicologia da UNIALFA.