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O sistema educacional já não é o mesmo

Publicado em 12/05/2020

*Laila Isa F. de A. Fernandes

Em menos de dois meses as nossas vidas se transformaram abruptamente. O problema de saúde que víamos nos jornais e emissoras de TV de várias partes do mundo, bateu nas nossas portas. Ou seja, o jeito brasileiro de viver e conviver teve que ser reinventado de forma rápida. O COVID-19 chegou ao Brasil e junto descobrimos o despreparo em lidar com uma pandemia dessa magnitude. Um vírus extremamente contagioso em um país tão "caloroso" quanto o nosso, só poderia desencadear números alarmantes, tendo em vista que o contato físico faz parte da cultura do nosso povo.

Se para os adultos as coisas já se mostravam difíceis, imagine para as crianças. Além de aprenderem hábitos novos e de precisarem se adaptar ao confinamento em casa, elas precisaram lidar com um processo de escolarização completamente diferente do que já estavam acostumadas. De imediato as aulas foram suspensas. Até mesmo porque a escola é catalisador de doenças contagiosas. Em ambiente escolar tudo se pega (de piolho a sarampo). Com isso, fomos lançados em uma fenda temporal que nos exigia as habilidades de informática, comunicação e design que talvez levássemos anos para desenvolver. Até já imaginávamos que a tendência da educação era essa e que um dia as aulas seriam pelos computadores, que os professores gravariam as aulas e que os alunos enviariam suas tarefas por e-mail. O que não podíamos prever é que esse dia fosse chegar tão cedo!

O primeiro impasse que encontramos foi a falta de estrutura física. Alguns professores não tinham os recursos para elaborarem as aulas. A maioria dos professores não tinham os recursos para acompanhá-las. Os servidores de internet não estavam preparados e tudo pediu ajustes. O segundo impasse foi a capacitação humana. As escolas se desdobraram para ensinar aos professores o uso das ferramentas e os pais tiveram que aprender "na marra" duas habilidades extremamente complicadas: ensinar as crianças em casa e lidar com as novas tecnologias.

Outro ponto que trouxe discussões foi a adaptação de currículos e calendários. Na educação infantil o que se propõe são brincadeiras e experiências e aí descobrimos algo impensável: os pais tem uma dificuldade enorme de brincar com os próprios filhos. Seja por estarem em home office, seja por falta de criatividade ou até mesmo de paciência. E então o ensino remoto para a educação infantil foi alvejado por questionamentos. No Ensino Fundamental, as aulas remotas tem acontecido, mas existem tantas variáveis que é impossível dizer que todos os alunos estão sendo atendidos. Já é muito difícil atender todas as demandas na sala presencial, imagine virtualmente. Existem questões sociais que impossibilitam esse alcance, existem limitações relacionadas às necessidades educacionais especiais, existem problemas de aprendizagem que precisam de um atendimento mais direto e tudo isso dificulta que todas as crianças aprendam.

Analisando o que evoluímos nesse período de pandemia, descobrimos que assim como todas as crises pelas quais a humanidade passou, essa também está nos deixando alguns legados. Nós temos deixado de lado preconceitos com relação à flexibilização das metodologias de trabalho e abrindo espaço para o novo na Educação. Isso é muito positivo porque as crianças de hoje precisam dessa abertura para estarem inseridas no mundo tecnológico em que vivem. É muito discrepante que as crianças sejam educadas apenas com livros e cadernos, em uma época permeada por telas. Além disso, a partir de agora, há esperança de que se desenvolvam políticas públicas de formação de professores voltadas para a capacitação tecnológica, possibilitando que o trabalho com as tecnologias não seja improvisado. Esse susto que estamos levando está nos abrindo os olhos para o quanto estávamos negando a evolução tecnológica na educação e o quanto isso estava nos fazendo perder tempo com burocracias que hoje já não fazem mais sentido. Além disso, estamos aprendendo a valorizar o que a Educação mais preconiza desde sempre: só é possível fazer Educação de qualidade quando temos o apoio da família.

Laila Isa Faustino de Araújo Fernandes - É professora formada em Pedagogia e História. Possui especialização em Psicopedagogia Institucional e Docência Universitária. Atualmente faz o Mestrado em Desenvolvimento Regional na UNIALFA sob a orientação da professora Hérica Landi de Brito.

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