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Impactos no comércio exterior brasileiro

Publicado em 20/08/2019

*Marco Antonio da Silva

A história contemporânea da globalização tem nos mostrado que as crises políticas, financeiras e econômicas têm reflexos globais e não são mais um curto espaço de tempo entre dois momentos de estabilidade. O fato é que saímos de uma crise e logo há outra para administrar.  E com que velocidade os reflexos da globalização em momentos de crise são sentidos no Brasil? Sentimos os bons e maus reflexos em tempo real.

Em 2019, a incerteza das reformas no Brasil foi um dos fatores de valorização do dólar frente ao real e, recentemente o embate comercial entre Estados Unidos e China, a diminuição do índice de crescimento da economia chinesa, as eleições na Argentina o terceiro parceiro comercial mais importante do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos fez a BOVESPA cair e o dólar disparar novamente passando dos R$ 4,00.

Um dos reflexos disso é que as importações ficam mais caras, a carga tributária sobre um produto importado por empresa brasileira se eleva e tende a promover um desequilíbrio de preços no mercado interno. Em contrapartida as exportações são favorecidas já que o exportador brasileiro aumenta sua receita sobre as vendas no mercado global. Se aliarmos a valorização do dólar ao fato de que as commodities, setor em que o Brasil é reconhecidamente um importante player quando estão com seus preços favoráveis ao mercado externo, ao exportador é um momento promissor.

No entanto, alguns pontos são possíveis de reflexão. Até que ponto o exportador realmente ganha o equivalente a valorização do dólar? Será que o descompasso do mercado de câmbio de alguma maneira não representa perda de lucratividade ao exportador? Frente a valorização da moeda, que estratégia o exportador brasileiro pode adotar?

Considerando que um dos grandes entraves no Brasil do ponto de vista de competitividade no comércio exterior é a infraestrutura de logística e que a logística envolve suprimentos, produção, armazenagem e a distribuição, a valorização do câmbio altera o comportamento dos custos relacionados a ela.  Portanto há uma relação direta entre competitividade, aumento de receita de exportação, custos logísticos e alta do dólar.

Num cenário imprevisível, algumas vezes caótico e mutante como esse, o exportador pode adotar como estratégia de vendas a redução de preço e negociar descontos a seus produtos que pode ser vinculado, por exemplo, ao pagamento antecipado ou à vista ou ainda a quantidade mínima de um pedido. Assim aproveita a valorização do câmbio e muda a estratégia tentando diversificar mais seu mercado externo e ainda estreitar o relacionamento com seus clientes já conquistados. Outra estratégia pode ser a de manter seu preço e simplesmente ganhar com a valorização sem pensar em desconto.

Embora possa parecer simples essa conta para o exportador ganhar mais, a definição da estratégia é vital mas, a que se levar em conta que, um produto ao sair do Brasil depende da infraestrutura logística à disposição e o frete internacional é contrato em moeda estrangeria, despesas como seguro internacional de carga também são contratados em moeda estrangeira, portanto se o dólar valoriza, também  a logística e despesas operacionais aumentam e mudam a configuração de custos e a formação de preço de produtos exportados.

Do lado a gestão tributária, as exportações do Brasil são beneficiadas e o Imposto de Exportação, IPI, PIS, COFINS e ICMS não são destacados na nota fiscal e venda de exportação o que já é um esforço para a competitividade de produtos brasileiros no exterior.

Portanto a infraestrutura logística, a alta do dólar e os benefícios fiscais na exportação são ingredientes relevantes no esforço da competitividade dos produtos brasileiros no mercado global e isso mostra que a alta do dólar não é a melhor estratégia para o aumento das receitas com exportação.

O Brasil ao longo de sua história recente vem tendo muitas oportunidades para evoluir no mercado global e as oportunidades passam. Prova disso é que na década de 90 a participação do comércio exterior no mundo era de aproximadamente 2,5% e em 2018 é de ínfimos 1%. Sem as reformas estruturais que necessitamos não há expectativa de melhorar esse índice. Ao que parece as oportunidades geradas pelo embate comercial entre Estados Unidos com o governo de Donald Trump e o governo chinês será mais uma oportunidade perdida.

Me parece que falta ao Brasil implementar uma política de comércio exterior que de fato promova o nome do Brasil no Exterior, ou seja, já demoramos muito para estar presentes fisicamente nos outros países. Passou da hora de promover no exterior a excelente qualidade de produtos e serviços das empresas brasileiras. O Brasil como país emergente necessita urgentemente criar mecanismos que atraiam o interesse dos investidores ávidos por investir em economias como a nossa.

Sendo assim, a alta do dólar certamente ajuda a exportação brasileira, mas me parece que não é o melhor caminho uma vez que o melhor caminho passa ou deveria passar pela criação de valor agregado aos bens e serviços exportados pelo Brasil além de uma estratégia focada no desenvolvimento da cultura exportadora sobretudo nas micro e pequenas empresas.

Tomando como exemplo a soja, há uma demanda no mercado global. A China gasta algo em torno de R$ 13,5 bilhões em compra de soja dos Estados Unidos. E nesse embate comercial, Argentina e Brasil são os candidatos a fornecedores dessa demanda. Certamente que o Brasil tem total condições de aumentar seu volume de venda nesse segmento até porque a situação econômica na Argentina dá sinais de fraqueza com taxa de juros de 60% uma tentativa de tentar conter a valorização do câmbio já que ness e momento 1 dólar vale em torno de 42 pesos.

Um cenário que se apresenta promissor para o Brasil e para as empresas brasileiras, que pode colaborar para aumentar as reservas brasileiras e gerar ainda mais superávit na balança comercial.

Marco Antonio da Silva - É professor do MBA em Auditoria Fiscal e Planejamento Tributário da UNIALFA. Além disso, é CEO do Grupo Comex Online e consultor em comércio exterior.