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Fortalecendo laços familiares em tempos de distanciamento social

Publicado em 30/03/2020

*Edinamar Rezende de Oliveira

É fato que estamos vivendo algo inédito no mundo. Um distanciamento social no intuito de combater um vírus (COVID -19) altamente contagioso, que rapidamente alcançou todos os países, gerando insegurança, tensão e angústia nas famílias.

E nesse tempo de distanciamento social, as pessoas precisaram drasticamente viver o jamais pensado: estar em casa em regime de confinamento, os pais cessam suas atividades profissionais abruptamente, sem programação, ou seja, não são férias! As crianças, os adolescentes, jovens e adultos, são dispensados da escola! Os professores precisam readaptar-se instantaneamente a uma nova metodologia de ensino (aulas online's)! Os idosos precisam, de repente, deixar de fazer aquela caminhadinha! E vem a pergunta: o que fazer diante de tamanha mudança?

Lidar com esse "novo" pode ser muito desafiador para a grande maioria. Lidar com o turbilhão de sentimentos e emoções que podem emergir, pode não ser apenas desafiador, mas também, desastroso; uma vez que requer um enorme investimento de energia, a fim de manter o equilíbrio, e buscar recursos internos que viabilizem a criatividade, no dia a dia confinado em família. O que fazer com o stress, que pode ser excessivo durante este momento? Podemos manter hábitos saudáveis, como a prática de exercício físico; olhar para a nossa alimentação; termos boas conversas em família, dentre outras opções.

Sobretudo, quero aqui dar destaque a um público muito especial em meio a esse caos: as crianças. O que, ou como fazer com as nossas crianças?

Percorrendo o caminho histórico que descreve a história da infância, é fato que um olhar diferenciado sobre a criança teria início em sua constituição com o fim da Idade Média. Por muitas vezes, ainda hoje, a mesma aparece como um ser invisível nas diferentes instituições, seja na escola, em abrigos e até mesmo na família. Vale ressaltar que na família se faz o ambiente mais importante para o desenvolvimento saudável do indivíduo, pois é a partir deste grupo social que ela vai criar seus primeiros laços afetivos, considerando que este é um dos elementos fundamentais para que se torne visível, de forma a refletir em todo o seu processo de desenvolvimento na vida adulta.

Nossas crianças, repentinamente, são tolhidas de irem à escola, de brincarem com os amiguinhos, e passam à viver uma realidade, na verdade, assustadora! Esse olhar, esse cuidado, é preciso começar a partir de nós, pais e cuidadores, pois o mundo vive grandes transformações e navega em ritmo de gigabytes, numa velocidade imensa; vivemos a era da internet, em que as crianças se conectam em todo momento, tornando muitas vezes, a adequação familiar conflituosa.

O desenvolvimento emocional não se dá de forma linear, é repleto de idas e vindas. Em muitos momentos podem ocorrer situações difíceis de serem enfrentadas pelos mesmos, podendo evocar comportamentos temporariamente regressivos, porém há que se observar que se trata de um período transitório, fazendo-se necessário respeitar o ritmo individual da criança. Maldonado deixa claro que existem situações que se tornam traumáticas para a criança e, ressalta ainda, que em inúmeras situações os adultos que lidam com a mesma, podem ajudá-la a enfrentar e atravessar essa fase, no entanto, muitas vezes permanecem no faz de conta com a criança, tornando a situação ainda mais embaraçosa para a mesma, pois, ela é dotada de capacidade para perceber o mundo a sua volta experimentando toda a sucessão de sentimentos humanos.

Assim, nós pais e cuidadores precisamos desenvolver ou liberar nossas habilidades. Gostaríamos de chamar sua atenção para que tenha um outro olhar para seu(a) filho(a) e sua família; olhe para as emoções que podem estar surgindo e causando algum tipo de desajuste no funcionamento dele (a), na dinâmica da família.

É momento de cuidarmos disso! Como? Além dos inúmeros recursos de entretenimento que existem, como: jogos de tabuleiro, programas de tv, jogos de cartas, diversões eletrônicas; podemos recorrer à uma interação mais eficiente, utilizando de recursos que possam nos colocar em um contato maior com nossos filhos, como: pular amarelinha; jogar adedonha; passar anel; balança gangorra; batata quente; contar histórias; entre outros.

Mais sugestões: Façam refeições à mesa, todos juntos; falem sobre emoções: raiva, tristeza, alegria, medo...; vejam fotos de família, os filhos vão amar saber sobre os pais e família; façam ginástica juntos, isso ajuda a produzir hormônios; dê a eles atividades nas demandas da casa; escutem música e dancem, ajuda a espantar o mal humor; façam um pic nic em casa mesmo; conecte-se com sua criança interior e brinque com seus filhos, sem pressa.

Que sejamos capazes de levar conosco para todo o sempre o aprendizado de tudo que estamos vivenciando neste ano de 2020.

E queremos deixar com vocês uma frase de Rousseau: ?A humanidade tem seu lugar na ordem das coisas, e a infância tem o seu na ordem da vida humana: é preciso considerar o homem no homem e a criança na criança?.

Edinamar Rezende de Oliveira - É mestre em Psicologia. Psicóloga clínica - especialista em crianças e adolescentes e também professora do curso de Psicologia da UNIALFA.