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Consciência e esperança: dois grandes remédios para a pandemia

Publicado em 13/07/2020

*Guilherme Nogueira

No Brasil, mais de 70 mil pessoas morreram por COVID-19. É um número grande, mas poderia ser ainda maior somando as incontáveis mortes não notificadas pelas autoridades competentes e também os óbitos por conta de outras doenças que não puderam ser bem tratadas devido à superlotação dos hospitais, vítimas de violências, suicídios... Sem fazer apologia religiosa, tomo o exemplo presente no Evangelho de João (Jo 11, 35), no qual "Jesus chorou" ao sentir a sua própria dor e a de uma família decorrente da perda de um ente querido. E, nessa pandemia, são muitas famílias com essa mesma sensação.

Mesmo quem não presenciou alguém próximo com essa nova doença, se tiver uma atitude empática, se impacta com o número de vítimas. Diferente do que alguns ainda pensam, não está tudo bem. Quando comento sobre o começo de março, antes da pandemia, tenho a sensação de que ele se tornou um passado bem distante. Nesse tempo, houve mudanças de planos, perspectivas, ideias, valores... Está sendo preciso lidar também com as novas questões angustiantes, como: o risco de adoecer com os hospitais cada vez mais lotados; os conflitos financeiros e de trabalho; crises pessoais e familiares; período de incertezas e mudanças que não se sabem onde dará. Realmente, não está tudo bem...

Fica complicado caminhar com sanidade mental intacta no momento em que a armadura da saúde está abalada. Respirar, uma das únicas atividades fundamentais para vida que ainda é gratuita, tem tido um valor imensurável. Por isso, o uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento social e outros recursos maximizam e são fundamentais para o cuidado. Todavia, eles não trazem a paz e segurança de que, depois de uma simples saída de casa, retornaremos sem o risco de uma contaminação. O fôlego já abala um pouco só de pensar em precisar de um tratamento focado em se isolar completamente. Com isso, o medo da solidão e abandono fica quase palpável.

Mesmo com todas essas angústias, creio que não seja tempo de pânico, mas de desenvolver a consciência. Acredito que toda essa dor vivida pode trazer ensinamentos valiosos para o mundo, que não tem sido fácil aprender, mas é possível. Trabalhar o modo como se olha o problema, faz toda a diferença. O vazio que pode sinalizar a falta, é também a possibilidade do preenchimento, cada um interpreta a seu modo. Então, esse momento histórico, ainda que esteja acontecendo por meio de medidas duras, pode ajudar muito no processo de amadurecimento daqueles que estiverem dispostos.

Nos últimos séculos, o homem passou a colecionar relações. Tornou-se um ser acumulador e sobrecarregado de atividades para preencher seu tempo. Deixou de se reconhecer naquilo que produz. Ficou distante de si mesmo. Entretanto, as novas demandas do presente têm feito as pessoas desacelerarem, diminuírem o ritmo do passo, e com isso defrontarem consigo mesmas. Distanciados de muitos, a pessoa pode parar e descobrir de fato quais são as suas relações significativas, aquelas com as quais há preocupação e cuidado mesmo de longe. Dá para perceber também quais são as atividades que realmente alimentam a alma e quais aquelas realizadas apenas para sair de uma ociosidade incômoda.

Esse momento traz uma lição tão simples e ao mesmo tempo tão peculiar: eu cuido do mundo quando cuido de mim. Quantas pessoas antes, no dia a dia, se preocupavam tanto com os outros e pouco consigo mesmas. Agora, ao tomarem medidas de proteção consigo mesmas, salvam não apenas as suas próprias vidas, mas ajudam na salvação da humanidade. O triste com isso, é que as pessoas que não estão tomando esses mesmos cuidados, estão disseminando a contaminação para muitos inocentes. Pelo fato de o homem viver em uma sociedade globalizada, toda ação pessoal terá uma consequência geral. Por isso, a importância de uma consciência coletiva nesse momento. Não é possível tomar consciência pelo outro, mas dá para continuar a passar informação de alguma forma. E aí cultivar a esperança de que todos possam se unir para vencer não apenas uma doença, mas para resgatar todo o senso de civilização.

Esperança se deriva de espera, um ato muitas vezes complicado para a nossa geração ansiosa. Mas assim como a planta precisa de recursos e tempo para germinar, o mesmo acontece com o homem. Essa pandemia pode ser aproveitada como uma forma de se reelaborar a existência, para alcançar meios mais saudáveis de se viver. As pessoas poderão se ajustar de formas mais assertivas frente às novas demandas de autocuidado, de saúde coletiva, de engajamento social, de preservação da natureza e de tantas outras demandas. E, crendo na capacidade de regulação do binômio natureza-vida, com esse novo ajuste será resgatada a harmonia com o cosmos.

Como as coisas ficarão no mundo pós-pandemia? Essa é uma pergunta que ainda não se tem resposta. Muitos torcem para que tudo volte a ser como era antes, mas Heráclito, há milhares de anos, já ensinou que não se entra duas vezes no mesmo rio. A vida é um processo contínuo, então, agora, o caminho não é tentar retomar o passado, mas cuidar do presente para que o futuro seja o melhor possível e que todos estejam fortalecidos para lidar com o que vier. O que eu peço é que você tenha consciência desse processo vivido e esperança que as coisas irão melhorar. E também se cuide e, do jeito que der, cuide do mundo todo. Cuide da saúde física e mental, aceite todas as angústias que possam ser vividas, mas experimente-as com a esperança de que vai passar, e, aí sim, ficará bem! 

Guilherme Nogueira - É psicoterapeuta com especialização em "Psicologia Clínica: Gestalt-terapia", pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT). Atua como professor do curso de Psicologia da UNIALFA.

 

 

 

 

 

 

 

 

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